Saudades, ponto de paz

Reviro os olhos com a rotina, mas respiro aliviada ao lembrar que no final do dia terei o sorriso que é ponto de paz em meio ao caos. Me arrumo sorrindo enquanto ouço minha música preferida. Antes de sair de casa dou uma última conferida no espelho, tudo okay, lá vou eu. Aguardo o ônibus ansiosa pelos dois minutos que mais parecem dois segundos.

O ônibus finalmente chega, subo e avisto os olhos que são luz. Me sento no lugar de sempre. Comento sem intenção alguma sobre minhas mãos geladas, de repente elas são aquecidas por mãos calorosas, cheias de carinho. Surge em meu rosto o mais sincero sorriso de gratidão. Paro no tempo analisando cada mínimo detalhe, sonho acordada e quando me dou conta já estamos tão próximos que as respirações estão em sincronia.

Chegamos ao nosso destino, descemos. Subitamente, sem pretensão nenhuma, nossas mãos se esbarram e nossos dedos se entrelaçam. Passamos a caminhar assim. O silêncio não é nada constrangedor, para ser sincera, é bem reconfortante, aprecio a companhia e fico feliz por estar ali naquele momento.

Me despeço desejando que a hora passe depressa, para que eu possa o ver logo. Vou para aula. O professor começa a falar sobre romances e só consigo pensar naquele que me causa as famosas “borboletas no estômago”. Pego o celular para checar o horário, faltam só mais 30 minutos, amém!

Mais um dia universitário se encerra. Desço apressadamente. O encontro na escada de fora. Quando me aproximo percebemos que ele é, exatamente, dois degraus maior do que eu. Começamos a rir do meu tamanho gigante. A risada se transforma em um sorriso enorme, nos abraçamos como meio de dizer “Obrigado por melhorar meu dia”. Os rostos estão a milímetros de distância, posso sentir a batida de seu coração. Enfim, nos beijamos.

No caminho de volta as mãos permanecem juntas. Um carro da polícia passa por nós enquanto tentamos sintonizar nossas passadas. Brinco que ele poderia ser preso, afinal já é maior de idade e eu ainda tenho 17. Sou surpreendida pela fala “Vale muito a pena correr esse risco”. Retribuo com um beijo.

Estamos novamente no ônibus. Meus olhos estão pesados, o cansaço do dia está me dominando. E, gentilmente, ele me oferece o ombro para descansar. Aceito sem hesitar. Mesmo com todo o balanço causado pelas ruas esburacadas consigo cochilar. Quando abro os olhos, me deparo mais uma vez com o sorriso que me acalma. O abraço. Me sinto segura enquanto estou do seu lado.

O observo descer. Olho pela janela com carinha de boba alegre, risos são dados até mesmo para o chão. Fico desanimada por uma fração de segundo, mas logo passa. Sei que amanhã será ainda melhor do que foi hoje, só pelo fato de o ver novamente.

Sou acordada pelo barulho do despertador. Percebo que isso só foi um sonho. Na verdade, foram lembranças que eu queria que voltassem . Engulo em seco. As lágrimas escorrem pelo rosto enquanto rasgam a alma. Fico paralisada na cama, com o coração apertado. Reviro os olhos para a rotina mais uma vez, só que agora permaneço triste por não ter o ponto de paz.