Luto para além das barreiras estaduais
- Ingrid Garcez

- 9 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de fev. de 2020
Anestesiada. Sedada. Em estado de transe.
É como se eu estivesse assistindo à um filme, vendo cena por cena bem devagar. Mas não esboço reação, já não consigo processar os acontecimentos desse início de ano. A cada despertar é uma nova e inesperada tragédia nacional. Acontecimentos que envolveram os quatro elementos da natureza: água, terra, fogo e ar.
Terra: Brumadinho (MG), 25 de janeiro, início da tarde.
Após o rompimento da Barragem 1 da mineradora Vale, ondas gigantes de rejeitos seguiram em direção a carros, casas, animais e pessoas. A lama que alcançou os 80 Km/h devastou o cenário, exterminou a fauna e flora, soterrou sonhos que jamais se realizarão. O “””acidente””” marcou o país, levando o título de segundo maior desastre industrial do século e o maior acidente de trabalho do Brasil. 165 mortes confirmadas. 160 desaparecidos. Seres humanos que viraram mais uma estatística. Vidas que foram tiradas e que, talvez, sejam deixadas ao acaso da lama.
Água: Rio de Janeiro, noite do dia 6 de fevereiro.
Depois de dias de um verão intenso e um calor escaldante, a cidade maravilhosa é atingida por um temporal. Deslizamentos. Ônibus soterrado. Um saldo de 6 mortos. E assim, se faz esvair mais um pouco da esperança dos cariocas de um ano melhor. Ficam a apreensão e a angústia.
Fogo: Rio de Janeiro, madrugada do dia 8 de fevereiro.
Nunca um ninho esteve tão vazio. O Ninho do Urubu amanhece tomado pelo cinza, por causa do estrago feito pelo fogo. Cor essa, que mais tarde se refletiria no sentimento nacional, quando foram confirmadas dez mortes. Dez jogadores das categorias de base do Flamengo. Dez meninos. Dez sonhos interrompidos no meio da caminhada. A maior tragédia da história do clube, o maior trauma de dez famílias.
Ar: São Paulo, início da tarde do dia 11 de fevereiro.
O Brasil se depara com a morte de um dos maiores jornalistas do país, Ricardo Boechat. O helicóptero em que o profissional de Comunicação Social estava cai na Rodovia Anhanguera, tirando a vida de uma das minhas maiores referências. Um dos únicos que transmitia seu pensamento em meio a um jornalismo tão engessado em pleno século XXI.
Ainda sigo perdida, são muitas perdas para um curto intervalo de tempo. O choro não é só dá jornalista em formação, é da humana Ingrid Garcez. Me pergunto como é possível sentir tão intensamente a partida dessas inúmeras vidas sem, ao menos, ter convivido ou tido contato com nenhuma delas. Eu não sei. Também me questiono quais são as surpresas que 2019 ainda nos reserva. Espero que sejam boas e esse ano pare de nos surpreender de forma negativa.
Desejo que o coração de todos os familiares e amigos seja reconfortado. Deixo aqui meu desabafo de luto por desconhecidos e o pedido de que se você ama, diga. Não deixe o orgulho te vencer, jamais.









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